Literatura de Cordel
A doença do rico é a saúde do pobre
Jota Rodrigues
Jota Rodrigues
Ou senhora Aparecida Santa padroeira nodre Que minha pena descobre Sobre a doença do rico Ou a saúde do pobre A vinte e três de setembro Linha manhã domingueira O poeta Zé Rodrigues Vendendo cordel na feira Teve atenção despertada Com uma visita hospitaleira Era o douto Hézio Cordeiro Com um outro médico ao seu lado E uma senhora distinta Com os anéis de doutorado E os três procurava xilos Grande em canudo enrolado E não tendo a xilogravura Que o dotô Hézio pedia Zé Rodrigues prometeu Que de São Paulo trazia Sem prazo estipulado podendo ser qualquer dia E na noite de São Cristóvão Muito respeitosamente O doutor Hézio pedia Que Zé Rodrigue escrevesse Escrevo este primeiro Ilustro o pobre e o rico Por sorriso e desespero E ofereço aos meu leitores E ao doutor Hézio Cordeiro Neste verso começamos A pequena discrição Quando eu na maternidade Fui visitar dois pagão Um era filho de um rico E o outro de um pobretão O filho do rico estava Com manta e enxoval bordado Trancelim de ouro fino Sapatinhos prateado Num berço chique e elegante E seis enfermeiras de lado O filho do pobre estava Numa grade de madeira Sem manto e enxoval Sem sapato ou enfermeira Sem bico e sem trancelim Na mais profunda berreira Chegando o médico parteiro Deu alta às duas mulher A mulher do rico foi Pra São Francisco Xavier E a mulher do pobre foi Pra favela do Jacaré Chegou a mulher do rico Na sua rica mansão E depressa duas babá Correro para o portão Pra receber o garoto Filho do rico patrão O menino pobre tem Mingau de fubá cozido Sem leite tôd ou aveia Aguado e sempre dormido E até sem leite materno Que o da mamãe foi sumido O filho rico tem berço Pijaminha e mosquiteiro Tem ar condicionado pra soprale o dia inteiro Não panha sol nem sereno Nem brinca pelos terreiro E na casa da mulher rica As coisas muda de tom Tem leite materno forte Aveia e ninho do bom Tem canjinha de legume Tem tôd e leite elêdon O menino pobre tem Shortinho e cueiro rasgado Sem pijama ou mosquiteiro Nem ar condicionado Por berço tem o chão frio E coberta é saco emendado | Cria-se o menino rico Com maiores regalia Não toma banho na chuva Não pisa em terra fria Não pode apanhar poeira Porque sofre de elegia Cria se o menino pobre Dormindo pelas calçada Tomando banho na poeira E nas valas enlamaçada Papando barro e tijolo E a barriga toda inchada Aos vinte anos de idade O menino rico é rapaz E pra conservar a saúde As previdências é demais Não bebe água de poço E pisar descalço jamais Enquanto o menino pobre Já tem os pés calejado Pisando em caco de vidro Pregos ou arame enfarpado Bebe água até de vala E tem saúde e é corado O menino pobre anda Descalço sujo e rasgado Panha chuva noite inteira Passa um sufoco danado E não sente dor nem canseira Pois já tem o lombo curado. Se o rico apanha uma chuva Sofre o maior desmantelo Dói ouvido, dói garganta Dói cabeça e cotovelo Tem febre e um suor frio Em cada fio de cabelo O pobre dorme em chão frio Nas gigantes construção Panha chuva noite e dia Entre relâmpago e trovão Faz pernoite nas calçada E tem saúde de um leão Se o rico pega uma gripe E solta um espirro forte Recolhe-se ao seu leito Se maldizendo da sorte Consulta com o médico e diz Que esta na hora da morte O rico quase todo dia Mede a sua pressão Vai ao cardiologista Examina o coração Mas qualquer dor de barriga O tira de circulação O pobre já nem si lembra Da barriga ou coração Suas massage é nos trens De Japeri ou Barao E sua cardiologia É os chute na condução O rico sem fazer nada Sente dor, sente cansaço Sente moleza no corpo Sente fraqueza nos braço Sente desânimo e preguiça Sente-se em si um fracasso O pobre não sente nada Pois o seu tempo não dá Para preguiça ou cansaço Em seu corpo penetrar Tão grande é seu sofrimento Que isto não o faz abalar Um rico encontra com outro E vai logo perguntando Como vamos de saúde E responde o outro chorando Estou com uma dor de cabeça E a morte esta me chamando Um pobre encontra com outro Morrendo a fome e doente Já pergunta como vai O outro responde soridente Sou cheio de vida e saúde Esconde as dores que sente Resumo neste livrinho O tratado verdadeiro Dos males do rico e o pobre Reconhecendo o primeiro Ilustríssimo doutor Grande homem que me inspire O nobre Hézio Cordeiro O livro está terminado Levem um pra me ajudar Isto servirá de exemplo Veja o luxo o que é que dá Eu sou um pobre também Rolo no chão e nada vem A minha saúde abalar |
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